segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

18/10/2007

SUPORTABILIDADE

Cidades não se tornam inviáveis ou insustentáveis, dois termos em voga, elas se tornam insuportáveis.

Em 1945 após a explosão da primeira bomba atômica da história da humanidade a cidade de Hiroxima no Japão tornou-se, aos olhos da opinião pública mundial, insustentável. Hoje ela é um importante centro urbano do país, os vestígios dos acontecimentos do final da segunda guerra mundial resumem-se a poucos locais, transformados em monumentos.

No início da década de setenta do século XX o rio Tâmisa foi considerado 100% poluído e a cidade de Londres insustentável. Os arautos da desgraça anunciaram o início do fim da capital da Inglaterra. Hoje o rio Tamisa está despoluído, foi guarnecido com um moderno sistema de comportas contra enchentes, e a cidade de Londres é um dos mais vibrantes centros culturais e econômicos da Europa neste início de século XXI.

Em 2003, após a destruição das torres do World Trade Center por terrorista, New York foi declarada insustentável. Os especialistas previam a debandada das grandes empresas ali sediadas e o fim do período em que a cidade foi considerada “a capital do mundo”. Hoje, passados quatro anos daqueles eventos, New York assiste à reconstrução de um novo WTC e atravessa um ciclo de prosperidade.

Em 2005, após a passagem do furacão Katrina, a cidade de New Orleans foi considerada insustentável, os danos provocados na cidade foram considerados irrecuperáveis, os especialistas previram o fim da “capital do Jazz”. Hoje, passados dois anos, a cidade encontra-se em pleno processo de recuperação. É previsto que dentro de 5 anos ela estará completamente recuperada e renovada.

Nos anos 70, em pleno período do chamado “milagre brasileiro”, o Rio de Janeiro era considerado, justificadamente, uma “cidade maravilhosa”, cantada em prosa e verso. Naqueles dias supunha-se que o ambiente encantador da cidade somente poderia melhorar nos próximos anos graças ao crescimento previsto para a economia brasileira.

Hoje, passados trinta anos, o Rio de Janeiro é uma “cidade tenebrosa”, palco de uma guerra civil entre o crime organizado e as forças representativas da cidade. Os bandidos estão levando a melhor. Todos os indicadores apontam para o fato que a cidade está em vias de tornar-se insustentável.

Também nos anos 70 a cidade de São Paulo era o destino de milhares de migrantes que ali buscavam as oportunidades que não existiam em outros locais do país. Naqueles dias previa-se que a cidade tornar-se-ia, dentro de poucos anos, a “New York brasileira”.

Hoje São Paulo tornou-se um pólo exportador de pessoas, milhares migram para outros locais a cada ano. O crescimento desordenado, o sistema viário caótico, a poluição e a violência urbana transformaram a capital paulista num tormento para seus moradores. Os especialistas prevêem que, a curto prazo, a cidade se tornará insustentável.

Como podemos constatar os especialistas não apresentam um bom histórico quando se trata de comentar ou prever a sustentabilidade das cidades.

O verdadeiro termômetro, aquele que afere o grau de satisfação das pessoas por morarem em uma cidade, é a tênue diferença entre apreciar ou suportar um determinado centro urbano.

Os moradores de Hiroxima, Londres, New York e New Orleans apreciam o que suas cidades tem a oferecer. Os cariocas e paulistas suportam as cidades em que vivem, aproveitam qualquer oportunidade que lhes é dada para afastar-se, mesmo que temporariamente.

Florianópolis encontra-se hoje no limite entre o prazeroso e suportável.

Uma seqüência de administrações que investiram mais nos aspectos cosméticos que nos práticos, fechando os olhos para o corrompimento de diversos órgãos do município, permitiu a ocupação desordenada do solo por parte das construções “informais”, e a deformação do solo pelas construções “formais”.

A supressão ilegal de vagas de garagem e áreas de estacionamentos contribuiu significativamente para o “entulhamento” viário das ruas do município.

A administração estadual, muitas vezes alinhada ideologicamente com a municipal, contribuiu para o agravamento do problema urbano ao omitir-se na fiscalização que deveria exercer.

Diversos órgãos da administração federal, com cargos majoritariamente ocupados por cidadãos locais, foram igualmente omissos, por vezes coniventes.

A soma destes fatores desembocou na operação denominada “Moeda Verde”.

Uma vez formalizadas as denúncias cabe à população manifestar-se e exigir das autoridades o máximo de rigor em relação aos eventuais culpados.

Os resultados dos processos decorrentes destes procedimentos contribuirão considerávelmente para a definição do futuro da cidade. Eles indicarão o rumo do futuro : uma cidade prazerosa ou apenas mais um centro urbano suportável.

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