segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

17/10/2007

NON FUIT

Uma tradição das cidades brasileiras, herança dos símbolos heráldicos do período medieval, é a criação de Brasões de Armas. Toda cidadezinha, cidadezona ou cidadezoca que se preza tem o seu, Florianópolis não foge a regra.

Algumas cidades como o Rio de Janeiro, por exemplo, não apresentam qualquer texto (aliás divisa ou máxima) além do desenho com os supostos símbolos associados às características do município.

Em São Paulo não houve economia de erudição, o brasão de armas ostenta orgulhosamente a máxima : “NON DUCOR DUCO”.

O pujante município de Juqueirópolis, SP, também não economizou o latim: “LABOR ET DIVITAE”.

O brasão de armas de Araraquara, SP, soa igualmente imponente:”ALTIO ALTISSIMO SEMPER”.

Vou poupá-los das traduções.

Na capital do Rio Grande do Sul, além dos símbolos característicos foi incluída a imodesta divisa: ”LEAL E VALEROSA CIDADE DE PORTO ALEGRE”. Não é nenhum latim mas que auto-estima, não é mesmo ?

O brasão de armas de Curitiba, tal como o de Florianópolis, apresenta apenas o nome da cidade e as datas históricas significativas.

Que os curitibanos permaneçam com seu texto singelo, no entanto, como habitante de Florianópolis recuso-me a ficar em desvantagem em relação aos municípios de São Paulo, Araraquara e Juqueirópolis.

É hora de incluir em nosso brasão de armas uma divisa. Queremos a nossa máxima. Em latim, nada mais nada menos !

Este assunto da maior importância vem me roubando horas de precioso sono. PRECISAMOS UMA MÁXIMA !!!

Ontem, finalmente, após meses e meses de reflexão, concluí que a melhor divisa a incluir no brasão de armas de Florianópolis é : “NON FUIT”. Significa: não fui eu.

Em reportagem publicada pelo jornal “A notícia” acerca do indiciamento de 22 pessoas, em um quadro anexo encontram-se as declarações de alguns dos indiciados (aqueles poucos que se manifestaram) : “É um absurdo” , “É um engano” ou ainda (a melhor de todas): “Sou inocente”.

Em suma : NON FUIT.

É uma cidade fabulosa.

Ninguém viu o maciço do Morro da Cruz ser invadido por casebres ao longo de várias décadas.

Ninguém viu a grilagem furiosa que devastou as praias da ilha e, em algumas delas, avançou mar adentro.

Ninguém viu mudanças pontuais de zoneamento serem aprovadas pela Câmara de Vereadores.

Ninguém viu fiscais da SUSP concedendo habite-se a obras escancaradamente ilegais.

Ninguém viu bairros serem implantados sobre aterros feitos sobre mangues.

Ninguém viu a tresloucada ocupação da orla da Lagoa da Conceição.

“Eu não vi nada”. “Eu não sei de nada”. “Não fui eu”.

NON FUIT.

Alguma idéia melhor ?

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